Portuguesa recusada em Lisboa é exemplo de sucesso em Nova York !!!
Título Original da entrevista:
“A Bolsa de Lisboa recusou-me por falta de habilitações”
Domitília dos Santos, corretora na bolsa de Nova Iorque e quadro superior de uma empresa líder mundial em serviços financeiros, está no Top 100 Women Financial Advisors da revista Barron’s.
Uma fila de gente cruza a entrada do Lincoln Center. São quase oito da noite, apronta-se mais um concerto do ciclo "Mostly Mozart". Domitília dos Santos não esconde um tanto de ansiedade, outro de alegria. A música clássica conforta-a, é a sua "vitamina da noite". Conhece os caminhos do Lincoln Center como os recantos de casa. O espaço da Metropolitan Opera, o lugar do New York City Ballet, a morada da New York Phillarmonica Orchestra. Domitília segura o bilhete, a mala pesada de jornais e relatórios. Passa por uma miúda, olhar sereno no encalço dos pais. Fixa-a com ternura, como quem regressa à estação da infância. Não teve família que a levasse a um espectáculo, os dias atrás de sustento, sem mordomias nem aconchego de artes. Cruzou-se com este mundo era já mulher feita.
A sala enche-se num burburinho, nem uma cadeira vazia. Domitília procura a Fila P, ocupa assento. Apagam-se as luzes, acordam os instrumentos da orquestra. O violinista Joshua Bell é a estrela maior. Domitília desliga os telefones, a mala arrumada no chão. Nunca casou, faltam-lhe filhos para trazer a concertos. Lamenta não ter acontecido, segue adiante. Guarda as suas aventuras, a sua história. A primeira vez que entrou numa sala de espectáculos, já se fizera advogada. Pegou na sua curiosidade, comprou um bilhete e foi espreitar. A magia do palco agarrou-a pela cintura.
Vai muito a espectáculos?
Vou à ópera, ao teatro, ao ballet. Adorei ouvir Cesária Évora. Antes de 1980, nunca tinha ido à ópera; antes de 82, não conhecia a filarmónica; antes de 83, nunca tinha visto ballet. Não sabia nada de arte, fez parte do processo de educação da Domitília. Quem me dera ter começado antes... A vida é uma educação.
Entretanto, tornou-se figurante.
Trabalhava como voluntária na Ópera, quando ouvi um colega dizer que ia ser figurante. Achei graça e quis fazer o mesmo. Uma vez, num ensaio de "La Bohéme", fiquei junto ao Plácido Domingo. Ele pegou no meu braço e disse: "Onde for, eu vou". Fiquei a tremer, ‘Oh my God!' Eu entrava no segundo acto, comprava fruta, experimentava sapatos.
Como foi ser voluntária no Metropolitan Museum of Art?
Tornei-me guia do museu, foi dos trabalhos mais difíceis de fazer porque sabia muito pouco de arte. Ainda hoje, não sou perita. Só sei que igrejas, museus e bibliotecas dão-me uma imensa serenidade. Se estou chateada, stressada, vou para um museu e tudo passa. Às vezes, se me perguntar o que vi, nem sei responder, mas fico totalmente pasmada. Tranquila.
Quando é que começou a fazer voluntariado?
Em Março de 1983, no Hospital de Saint Vincent. Era o princípio da Sida, fiz um treino de seis meses e comecei a acompanhar doentes. Vi muita gente morrer. ‘What can I do for you?', é sempre a pergunta que faço. Lembro-me de um senhor com Sida, estive muito com ele... A certa altura, disse-me que queria um Ginger Ale. Era de madrugada, corri o hospital todo à procura. Uma coisa fácil, tão simples, mas 48 horas depois ele estava morto. O último doente que acompanhei foi um cliente meu. Perguntei-lhe o que podia fazer por ele, pediu-me um gelado. Disse-lhe que ia ao cinema, quando voltasse trar-lhe-ia um. Mas tenho um sexto sentido... Não consegui ver o filme, apanhei um táxi, comprei flores e um gelado. Cheguei e comecei a dar-lhe o gelado. Morreu 12 horas depois.
Fazer voluntariado é uma forma de retribuir o muito que a vida lhe deu?
Os momentos que tive com aquelas pessoas antes de morrerem são a maior gratificação. O impacto que você tem na vida de alguém nas suas últimas horas... Eu recebi mais do que dei.
É voluntária também no estrangeiro. Conte-me a sua ida à Etiópia.
Não acreditavam que eu ia mesmo, por isso não havia ninguém à minha espera. Fiquei chocada com tanta miséria. Instalaram-me numa casa cheia de ratos. Depois das nove da noite, não podíamos ir à rua porque os cães atacavam. Havia um portão e eu ia com as irmãs Madre Teresa de Calcutá lá buscar os doentes. Limpávamos as mais profundas chagas do mundo. Na emergência, havia papaia, Coca-Cola e Fanta. Aprendi que os refrigerantes eram bons porque tinham açúcar e que a papaia fazia bem às grávidas. Oh! Não se deve negar nada a ninguém que esteja a morrer. Mas o pior é a pessoa partir com amarguras e isso não tem nada a ver com fortunas. Quando só restam dez minutos de vida, ninguém pergunta quanto tem no banco.
Gere milhões, mas não pensa neles.
Não, o impacto que tenho na vida das pessoas é que importa. Consigo isso através da minha profissão ou através do voluntariado, do tempo que dou.
Hoje, quais são os seus trabalhos de voluntariado?
Durmo uma vez por semana num abrigo para sem-abrigos. Ao domingo, ajudo na sopa dos pobres. Quando é preciso, faço leituras na missa. Além disso, sou ‘mentorship' de duas pessoas. Ligam-me para saber qual a melhor universidade para fazer mestrado, o que precisam para evoluir. Aqui não há aquela mentalidade portuguesa - não ensinar tudo para não aprenderem mais do que nós. Aqui, ensina-se.
A Bolsa de Lisboa é uma brincadeira de crianças?
Só sei que fui recusada por falta de habilitações. Apesar de toda a experiência que tenho, não posso trabalhar lá porque me falta um curso de cálculo. Ainda bem, obrigada! Pensei nisso quando estava no começo, talvez não tivesse ficado cá.
Pensa na morte?
Estou tranquila com a vida, por isso, não me assusta. Se morrer a correr ou a viajar, que ninguém tenha pena de mim. Estarei a fazer o que gosto. Não posso estar mais de 15 dias sem viajar.
É uma mulher rica?
Sou uma rica mulher.
Por Ana Sofia Fonseca no Económico
Grande mulher, como há muitas que nascem neste rectângulo à beira mar plantado. Infelizmente em Portugal as mulheres continuam a ver a sua inteligência negligenciada e ainda se está na era do superlativo "atributo" físico, familiar ou político para chegar a algum lado.
Em TODAS as empresas onde trabalhei, assisti à subida hierárquica e salarial atómicas, das mini saias e decotes, principalmente quando passavam o mero objecto da apreciação óptica e entravam em outros com mais horizonte (ou horizontais se preferirem) e a enorme fé com que trabalham (chegando coitadas, ao ponto de trabalharem ajoelhadas em busca do prémio profissional que permitia o vestido novo para a festa do fim de semana). Isto, em detrimento das que possuem categoria profissional, capacidade, qualidade e acima de tudo dignidade.
Esta Grande Senhora, teve a inFELICIDADE de possuir estes últimos adjectivos, logo não estar enquadrada no primeiro grupo, o tal de sucesso em que qualquer Patrão, Administrador, Director, Chefe, neste nosso Portugal apostaria imediatamente. Mais rapidamente ainda, ligava aos amigos a contar do enorme feito que ainda não tinha feito, mas já se imaginava a fazer.
Para aumentar a sua inFELICIDADE, ficou no centro do mundo, onde as mini saias e decotes valem muito à noite, em bares e restaurantes (Muitíssimo)caros. No centro do mundo, as COLABORADORAS são escolhidas por possuírem categoria profissional, capacidade, qualidade e dignidade.
As amantes e similares, estão fora das empresas porque lá dentro, há gente a trabalhar e produzir riqueza para que lá fora, haja dinheiro para fazer a vida que se quer e ter as amantes e os luxos que se entender... ou não.
Parabéns a esta Grande Senhora que consegue ser excelente profissional, ter sucesso, ser bonita e ainda ter tempo para quem precisa de ajuda.
Um exemplo a seguir, principalmente quando vemos o 1º Ministro de Portugal ridicularizar a inteligência das mulheres portuguesas ao apresentar a futilidade, as mini-saias e decotes, como exemplo às jovens portuguesas.
Dessas que enchem as revistas cor de rosa e não produzem 1 cêntimo, estamos nós fartos, precisamos de gente que produza e seja verdadeiro exemplo do que temos a fazer para sair do marasmo.
Bem haja a todas as mulheres portuguesas que conseguem ser, excelentes: Profissionais, Mães, Filhas, Esposas, Cidadãs interventivas e ainda conseguem ser lindas e maravilhosas com a felicidade que transbordam. Bem hajam os homens que lhes sabem dar o devido valor.
Abraço.
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